A Polícia Científica de Mato Grosso do Sul alcançou novos resultados relevantes com o uso do SINAB (Sistema Nacional de Análise Balística). Dois casos distintos – um de abrangência interestadual e outro envolvendo múltiplas ocorrências dentro do próprio estado – ilustram como a tecnologia aliada à triagem técnica tem ampliado o potencial de esclarecimento de crimes. O destaque vai para a identificação de hits, como são chamadas as coincidências balísticas no sistema — quando uma mesma arma é associada a diferentes cenas de crime com base em vestígios como projéteis e estojos.
Caso interestadual: arma de homicídio no interior (MS) é ligada a crime anterior no Mato Grosso
Durante uma ocorrência em 2024, uma arma de fogo foi apreendida no interior do estado, em um caso de homicídio. Após os exames realizados no Núcleo de Balística Forense (NBF), os padrões foram inseridos no SINAB conforme o protocolo de rotina.
O sistema identificou uma coincidência com vestígios de outro crime, ocorrido anteriormente no Estado de Mato Grosso — um hit interestadual, confirmado posteriormente por confronto físico no laboratório parceiro da Politec-MT.
“É um exemplo claro de como o banco nacional conecta fatos criminosos que, até então, estavam isolados. A integração entre os estados fortalece o esclarecimento de crimes e a atuação da perícia técnica”, destacou a perita criminal Karina Rébulla Laitart, responsável pela administração do banco de perfis balísticos em Mato Grosso do Sul.
Caso local: arma inicialmente apreendida por porte ilegal é ligada a quatro crimes em Campo Grande
Em outro episódio, uma arma de fogo foi apreendida em Campo Grande durante uma ocorrência de porte ilegal, sem indícios diretos de envolvimento em crimes violentos. A princípio, a arma não seria elegível para inserção no SINAB. No entanto, um olhar mais apurado levou a equipe do NBF a optar pela inclusão no banco nacional.
A decisão se mostrou acertada. O SINAB retornou quatro coincidências balísticas (hits) envolvendo cenas de crime registradas anteriormente na capital. O confronto físico confirmou que os estojos de munição encontrados nas quatro ocorrências foram disparados pela mesma arma agora apreendida. Os laudos foram encaminhados às delegacias responsáveis, conectando investigações.
“Alguns casos não são automaticamente elegíveis para o banco, como porte ilegal de arma de fogo em áreas rurais. Mas avaliamos o contexto: calibre do armamento, histórico do portador, tipo da arma, reincidência. Às vezes, o que parece um caso corriqueiro revela-se essencial para conectar casos de maior gravidade”, ressaltou a perita.
Crescimento do banco balístico e fortalecimento institucional
Desde a adesão ao SINAB, em julho de 2023, o banco estadual de perfis balísticos tem crescido continuamente. Até o momento, já foram confirmadas 58 coincidências (hits) e inseridos mais de 1247 elementos na base nacional. A expectativa é que esse número continue aumentando à medida que mais vestígios e padrões sejam processados com os equipamentos de alta precisão disponíveis.
A atuação do NBF conta com infraestrutura moderna, resultado de investimentos superiores a R$ 5,9 milhões, incluindo aquisição de microscópio digital de comparação, sistema de imageamento 3D e câmara de recuperação de projéteis.
O que é o SINAB?
Coordenado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, o SINAB integra bases de dados balísticos de todo o país, permitindo que vestígios como estojos e projéteis sejam comparados entre diferentes estados. A plataforma utiliza a tecnologia IBIS (Integrated Ballistics Identification System), que gera imagens tridimensionais e identifica marcas únicas deixadas pelas armas, contribuindo para a elucidação de crimes com mais precisão e agilidade.
Maria Ester Jardim Rossoni – Assessoria de Comunicação/Polícia Científica