O perito médico-legista Guido Vieira Gomes, chefe do Núcleo Regional de Medicina Legal de Dourados da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul, realizou defesa de tese de Doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), campus Dourados. Com uma pesquisa inédita na área da entomologia forense, Guido teve defesa de tese aprovada. Trabalho realizado teve como objetivo a identificação de resíduos de disparo de arma de fogo em remanescentes entomológicos.
Com 14 anos de carreira na Polícia Científica, Guido reuniu a experiência prática com o conhecimento acadêmico para desenvolver o estudo.
Intitulada “Detecção de resíduos de disparo de arma de fogo em remanescentes entomológicos”, a tese teve como foco a análise de pupários de moscas e do solo sob carcaças de suínos atingidas por disparos. A motivação para o estudo surgiu da vivência do perito em cenas com corpos esqueletizados, onde a escassez de vestígios dificulta a elucidação da causa da morte. “Tive interesse em pesquisar novas possibilidades de vestígios em casos em que o corpo encontra-se esqueletizado”, explica o legista.
Os experimentos foram conduzidos em duas etapas. A primeira envolveu pedaços de carne, e a segunda, carcaças de suínos. Parte das amostras foi alvejada com disparos de arma de fogo, enquanto outra parte serviu como grupo controle. Os pupários recolhidos nos dois grupos foram analisados para medir os níveis de chumbo, bário e antimônio. “Os teores desses elementos foram maiores nos pupários e solos coletados abaixo dos porcos que foram alvejados”, relata o pesquisador. Os resultados demonstraram que os vestígios permanecem detectáveis mesmo após quatro meses do início da decomposição, ampliando o alcance temporal da perícia em corpos muito degradados.
O acompanhamento diário dos experimentos e a coleta adequada das amostras estiveram entre os principais desafios enfrentados ao longo do estudo. Ainda pouco explorada no Brasil, a entomologia forense foi apontada por Guido como uma área promissora, que merece atenção e investimentos em capacitação. “Outros trabalhos e capacitações devem ser estimulados para que um número maior de peritos estejam familiarizados com a coleta desses tipos de vestígios”, defende.
A pesquisa foi desenvolvida com o apoio de professores e alunos da UEMS e marca um avanço relevante para a aplicação científica na medicina legal. Para o perito, a conclusão dessa etapa da pós-graduação representa uma conquista significativa tanto no plano pessoal quanto profissional. “Fico muito satisfeito, pois a tese abre uma possibilidade para determinação da causa de um óbito no caso de encontro de restos humanos em estados avançados de decomposição”, conclui.
Sobre a entomologia forense
A entomologia forense é a área da ciência que estuda a aplicação do conhecimento sobre insetos no contexto de investigações criminais. A análise dos insetos que se desenvolvem em corpos em decomposição pode ajudar a estimar o tempo de morte, indicar a presença de ferimentos e, como demonstrado na pesquisa do perito médico-legista Guido, até mesmo identificar resíduos relacionados à causa do óbito.
Maria Ester Jardim Rossoni
Comunicação – Polícia Científica de Mato Grosso do Sul