A Polícia Científica de Mato Grosso do Sul perdeu um de seus grandes pioneiros. Faleceu no dia 20 de fevereiro de 2025, aos 98 anos, o perito criminal Hercílio Macellaro, um dos principais nomes na estruturação da Perícia Criminal no estado. Seu legado permanece vivo em cada profissional que atua na ciência forense sul-mato-grossense.
Uma trajetória marcada pela ciência e dedicação
Nascido em Miranda (MS), Hercílio era filho de Pedro Calabria Macellaro e Gertrudes Lanzarini. Desde jovem, demonstrou aptidão para os estudos, o que o levou a ingressar na Escola Politécnica de São Paulo, onde se formou em Engenharia Civil. Durante sua juventude, estudou em internatos e desenvolveu grande disciplina e comprometimento com o conhecimento técnico.
Ao longo de sua carreira, Hercílio trabalhou em diversas áreas da engenharia, acumulando experiência que posteriormente aplicaria na criminalística. Atuou na Companhia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, onde lidou com manutenção e infraestrutura ferroviária, e na multinacional Texaco, na área de manutenção industrial. Paralelamente, ingressou na Polícia Técnica do Estado de São Paulo, onde especializou-se em perícias de acidentes de trabalho, incêndios e explosões, desenvolvendo uma reputação sólida pela precisão de seus laudos.
No final da década de 1970, Hercílio recebeu o convite para organizar e estruturar a Polícia Técnica de Mato Grosso do Sul, recém-criado estado brasileiro. Nomeado Diretor do Departamento de Polícia Técnica (DPT) em 1979, foi responsável pela implantação dos primeiros institutos periciais do estado: o Instituto de Criminalística, o Instituto Médico Legal e o Instituto de Identificação.
A estruturação da Perícia Criminal
Com um olhar técnico e administrativo, Hercílio liderou a implantação dos serviços periciais, mesmo diante das dificuldades encontradas. Os primeiros peritos criminais atuavam em prédios provisórios e muitas análises eram realizadas de forma improvisada. Hercílio foi um dos responsáveis pela mobilização para a construção da sede definitiva do DPT, localizada na Avenida Filinto Müller, em Campo Grande, inaugurada em 1981.
Seu comprometimento com a ciência forense foi fundamental para que a Perícia Criminal em Mato Grosso do Sul se consolidasse como um dos principais pilares da segurança pública. Sob sua direção, foram elaboradas as primeiras análises periciais do estado, incluindo exames em locais de crime, documentoscopia e vistorias em veículos.
Legado eterno
Hercílio Macellaro deixa uma marca indissociável na história da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul. Sua dedicação e expertise permitiram que as futuras gerações de peritos pudessem atuar com estrutura e metodologia científica. Seu compromisso com a justiça e com a verdade o tornou uma referência para os profissionais que seguiram seus passos.
Em face da sua importância e legado, o Instituto de Criminalística da Polícia Científica de Mato Grosso do Sul é reconhecido pelo seu nome, que remete e eterniza sua contribuição para a ciência forense do estado.
A Polícia Científica de Mato Grosso do Sul presta sua homenagem a esse visionário, cuja contribuição para a instituição jamais será esquecida. Seu legado permanecerá vivo na história da ciência forense do estado e na memória de todos aqueles que tiveram o privilégio de conhecer e aprender com ele.
*As informações e imagens desta matéria foram retiradas da obra do perito criminal aposentado – Rui Rodrigues, História da Perícia Oficial do Estado de Mato Grosso do Sul.
Na minha vida, colecionei inúmeros colegas, mas amigos mesmo são poucos.
Hercílio Macellaro é certo, está entre este últimos.
(Autor: Rui Rodrigues, Perito Criminal Classe Especial, Inativo)
Na minha vida, colecionei inúmeros colegas, mas amigos mesmo são poucos.
Hercílio Macellaro é certo, está entre este últimos.
Fui uma única vez na sua residência do Jardim São Bento, São Paulo (ao lado do Campo
de Marte) na tarde de 12 de junho de 2013. Um senhor de quase 2 metros de
comprimento, loiro, olhos azulados, me recebeu com um grande sorriso. Ao iniciar as
primeiras conversas já percebi o característico sotaque pantaneiro. Passamos a tarde
inteira conversando, nem parecia uma entrevista. Hercilio já havia completado 87 anos de
idade, perfeitamente lúcido. Tive a curiosidade de perguntar como conservara tão bem a
saúde mental e este mostrou vários livrinhos de palavras cruzadas e sodoku, além de
cadernos de desenho.
Hercílio contou que o pai, Pedro Calabria Macellaro, era italiano, construtor de
edificações do complexo arquitetônico religioso e havia morado em Miranda, onde
nascera em 13 de maio de 1926, e depois mudaram para Corumbá, onde aprendeu língua
português e matemática com o Professor Antônio Siqueira. Cursara o ginásio no Colégio
Salesiano Santa Teresa, aluno do Professor Alexandrino de Castro. Concluído o ginásio, o
pai o mandara estudar no Colégio São Bento, no centro de São Paulo.
Devido a grande distância até Corumbá, passava as férias escolares no sítio dos padres,
no bairro Casa Verde. Mais tarde a propriedade foi loteada, e Hercilio adquiriria um
terreno onde edificara sua residência.
Cursou Engenharia Civil na Escola Politécnica da Avenida Tiradentes, sendo colega de
Mario Covas, apelidado de Zuza, que mais tarde se tornaria Governador de SP e que
mantiveram uma grande amizade por toda vida. Praticava o esporte de Remo no Clube
Regatas Tiete. O local desta pratica era o Rio Tiete, antes de se tornar poluído. Concluiu o
Curso em 1957.
Além dos trabalhos inerentes a profissão – trabalhou na NOB e Texaco – exerceu o cargo
de Engenheiro extranumerário, cargo comissionado na então Polícia Tecnica de São
Paulo, conciliando horário com plantões noturnos e feriados. Atuava na secção de
engenharia, adquirido habilidades em perícias de acidentes de trânsito e incêndio.
Fundou com outros 3 amigos, a concessionaria TAMAKAVI, da montadora Volkswagen,
localizada na Avenida Brás Lemes, mais tarde vendida para o empresário Silvio Santos.
Polícia Técnica de MS
Hercílio Macellaro viajava regularmente ao estado, para visitar parentes que residiam no
Posto Zuzu, situado às margens da rodovia BR 267. Zuzu era casado com uma prima da
esposa de Hercílio. Daí a ligação afetiva e familiar. Para fazer estas viagens de São Paulo
ao Posto Zuzu, Hercílio utilizava um Volkswagen Fusca de sua propriedade. Nesta época
O governador Harry Amorim Costa já havia sido exonerado pelo presidente Ernesto
Geisel. Em seu lugar nomeou o engenheiro Marcelo Miranda. Macellaro havia sido
sondado para organizar a Polícia Tecnica do recente Estado.
Certo dia, quando Hercílio Macelaro se encontrava na fazenda de Zuzu, chegou o
professor Willian Puia. Este perguntou novamente a Hercílio se aceitaria organizar a
polícia técnica caso o convite fosse novamente refeito. Assim, João Batista Pereira, então
secretário de Segurança Pública, fez então o convite. O Diário Oficial de Mato Grosso do
Sul n. 214, de 07.11.1979, publicou o decreto da nomeação de Hercílio Macellaro no
cargo de Diretor de Diretoria, símbolo DAS-4, do Quadro Permanente do Estado, anexo do
Decreto Lei n. 50 de 21.02.1979. Dias antes, já havia sido publicado no Diário Oficial do
Estado de São Paulo, de 26.10.1979, o afastamento de Macellaro para prestar serviços
junto à Diretoria Geral de Polícia Civil – DGPC, do Estado de Mato Grosso do Sul até
31.12.1979. Depois houve a prorrogação até 31.12.1980.
Hercílio Macellaro foi Diretor do Departamento de Policia Técnica de MS de 07.11.1979
até 01.12.1980, com o cargo de Diretor de Diretoria. Durante este curto período organizou
os Institutos, ensinou os primeiros profissionais a realizarem os levantamentos periciais,
as fotográficas, croquis e a elaborar os laudos periciais, contou com o auxílio de outros
colegas peritos de SP, dentre eles o Perito Daniel Ortega.